Sunday, August 27, 2006

É, Quiçá

O “hexa” não veio. Também, o Brasil não foi. Quiçá por favoritismo demasiado, quiçá por despreparo psicológico. Quiçá por muitos quiçás. Mas daqui a quatro anos sim, vamos com tudo, com força, com raça, com Dunga e o “hexa” será nosso. É, quiçá.

Cadê a garra do time? Dida na área, quadrado mágico. Até tu seleção? Até tu. Quem mais vai trair o pobre brasileiro? Quem mais vai tirar sarro dessa gente? Quem agüenta? O imposto, a multa, os órgãos públicos, o avião do presidente, quem mais? Eu acreditei que “brasileiro não desiste nunca”, pois bem, quebrei a cara. Estou começando a rever isso, estou começando a deixar de lado, começando a desistir. Chegaram onde queriam, tem tanta coisa reprovável e repulsiva acontecendo, ao mesmo tempo, que não temos mais tempo para nos indignar com tudo. Acabamos aceitando algumas coisas por falta de tempo. É o fim, o juízo final, apocalíptico.

Agora estamos apostando tudo na renovação da seleção, na renovação do quadrado mágico, da direção ao camareiro – sim, alguma culpa ele teve. Vamos mudar até as cores do Brasil. Sugiro o preto, uma cor forte, uma cor boa, ausência de cores, lembra luto. E que o patrocínio não seja mais valorizado que a patriotismo na próxima Copa. Que mercenários, da bola e dos plenários, fiquem longe dos palcos principais.

Quem melhor marcou na Copa foi a imprensa. Agora quero ver nas eleições a mesma marcação cerrada e sensacionalista da Copa. De uma hora para outra todos os nossos conhecidos jornalistas se tornaram comentaristas esportivos, afiadíssimos, aguçados. Espera-se que até outubro, ou quiçá, até novembro, todos se transformem em cientistas políticos. Quero que filmem até as bolhas que os candidatos tiverem nos pés e que tenha site com pesquisa de opinião sobre isso, que expliquem o que fazem com as verbas eleitorais, que mostrem quantas embaixadinhas cada um faz com uma nota de cem reais e quantos passes errados dão com aquela tal de CPMF – provisória né? – enfim, contem tudo. Encham o povo com três sessões diárias de noventa minutos de informações políticas, só não me façam engolir o dia-a-dia do candidato.

E a legislação eleitoral precisa ser alterada. Estava pensando sobre isso. Na verdade, não faltam leis no Brasil, nem precisam de alteração, falta quem as cumpra, quem as leve a sério, quem as faça cumprir. Cheguei à conclusão que de nada adianta um corrupto fiscalizar outro, é o mesmo que pedir para o atacante marcar, não dá, não ganham pra isso. Ganham se ficar lá na frente, um esperando a bola chegar, o outro esperando a bolada entrar.

Vejamos, apenas três dias de trabalho por mês na Câmara, sim, míseros três dias para os deputados, sem redução salarial, sem respeito, sem vergonha, cumprindo o regimento – é de ranger os dentes. Durante a campanha isso vale. Estamos apostando tudo na renovação do Triangulo Mágico (Planalto, Senado e Câmara). Lá a mágica é fazer dinheiro desaparecer, malas e cuecas encherem, cassações serem negadas, processos arquivados, dançar em pleno plenário com sessão e fazer a maior de todas as ilusões, a de não ser visto por ninguém – eu não vi, eu não sabia, nem eu. Quem? Eu? Eu não. Apostamos na renovação desta seleção, que ainda somos obrigados a selecionar de quatro em quatro anos.

Quantos sorrisos “Excelências”, agora estão aqui, de volta, palpáveis, de perto, olho no olho. Antes eram só manchetes. Saíram dos jornais e das revistas de escândalos. Saíram para nos abraçarem, para limparem suas mãos sujas em nossas roupas esfarrapadas. Quantos sorrisos “Excelências”, quanta vontade de fazer algo melhor pelo país, quantas mangas arregaçadas, quanta ironia, quanto cinismo, quanta hipocrisia e sarcasmo. Agora tudo tem solução e certamente vocês são as melhores. Porém, a partir de janeiro a coisa muda, vira do avesso, de ponta cabeça e o espetacular esconde-esconde recomeça. Esconde o jogo, esconde a verba, esconde o rosto e enche o bolso.

Eu tenho na cabeça uma greve. Uma greve de verdade. Assim como os funcionários públicos fazem para reivindicar condições e salários, assim como as esposas para ter a devida atenção dos maridos, bem como os presos fazem suas greves de fome – ops, estava esquecendo do Gurizinho, digo Menininho, enfim, está entendido – para obterem concessões. Somos obrigados a votar em gado, em políticos venais, mercenários. Não podemos escolher, somos obrigados a optar. Portanto, proponho uma greve de voto. Bem simples, ninguém vota, ninguém se elege, todo mundo justifica. Esse é o pacto. Enquanto essa falácia não parar, enquanto essa fraude fabulosa não acabar, enquanto não fizerem com que esta cena burlesca da política nacional seja levada a sério e que cesse a mentira que nos contam toda vez, acho que não devemos votar.

É, quiçá isso não resolva. É, quiçá isso não melhore nada, mas com certeza não piora. Não piora o que não pode ser piorado. Não piora a índole de pessoas com idéias pobres e ideais podres. É um protesto pacífico, real, possível e honesto. Uma troca justa, sem fazer ninguém de refém, ao menos por enquanto.

Bom, meu amigo brasileiro, o “hexa” não veio, quiçá por vários motivos. No fundo, no fundo isso estava combinado. Sem festa, sem comemoração, sem políticos oportunistas dizendo: “o hexa foi fruto da minha administração”. Pelos próximos quatro anos temos um único compromisso: LEVAR A SÉRIO ESSE PAÍS. E fingindo que tudo ainda funciona: uma boa sorte em outubro. Pois, infelizmente, coisa séria aqui já é sinônimo de superstição. E o Brasil vai melhorar. É, quiçá.


Dani Rossoni
Porto Alegre/RS
Agosto de 2006

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