Tuesday, November 06, 2007

A outra campanha - Exército Zapatista de Libertação Nacional

Um movimento armado, majoritariamente indígena, que não acredita nas armas e não pretende a tomada do poder. Uma guerrilha não convencional que prefere a força das palavras em lugar de fuzis e que dá voz aos sem voz. Entre tantos aparente paradoxos, o movimento zapatista, representado pelo EZLN - Exécito Zapatista de Libertação Nacional e pelas comunidades indígenas do sudeste do México, que são suas bases de apoio e sua carametade civil, supreende e instiga a curiosidade do mundo desde janeiro de 1994, quando apareceu publicamente nas selvas e pequenas cidades do empobrecido estado de Chiapas.
De lá para cá, os zapatistas souberam resistir aos ataquesw e pressões do governo, do exército federal e de grupos paramilitares. Com criatividade e generosidade política, estenderam inúmeras pontes de diálogo com a sociedade civil nacional e mundial, que retribuiu com solidariedade efetiva em momentos cruciais. Depois de mais de 12 anos de luta e resistência, o movimento zapatista sobrevive e se expande, propondo novamente um diálogo com amplos setores da sociedade mexicana através da sua iniciativa mais recente, "La Otra Campaña", uma caravana que desde janeiro de 2006 percorre todos os cantos do México, de sula norte, entre montanhas e pelo litoral, nas pequenas vilas ou aldeias e nas grandes metrópoles do país. após um longo período de silêncio, em 19 de junho de 2005 os zapatistas lançam um comunicado dirigido à sociedade civil e decretam alerta vermelho em todo o território insurgente, o que faz com que muitos olhos e ouvidos se voltem novamente para chiapas. Especulações sobre o que poderia acontecer percorrem o país. Fala-se em possibilidade de nova ofensiva do exército federal sobre comunidades indígenas, rumores de enfrentamento com tropas do EZLN. Novo Silêncio. Um mês depois, o alerta vermelho é suspenso pelo Comitê Clandestino Revolucionário Indígena, a comandância zapatista, em mais um comunicado, que indica também mudanças na forma de funcionamento dos "caracoles", com maior participação das bases de apoio indígenas em sua gestão. São cinco os caracóis, centros de contato político e cultural das comunidades zapatistas com a sociedade civil nacional e internacional: La Garrucha, La Realidad, Oventik, Roberto Barrios e Morelia. Antes se chamavam "Aguascalientes" e haviam sido construídos para sediar o I Encontro Intercontinental pela Humanidade e contra o Neoliberalismo, em 1996.
O objetivo dos zapatistas com o alerta vermelho era chamar a atenção da sociedade e da mídia para a proposta política que fariam a seguir, e isso foi logrado. Mas também houve críticas de vários setores, que entenderam como brincadeira de mau gosto o alerta vermelho "falso". Nos dias seguintes, começam a ser divulgados comunicados que tiveram grande repercussão dentro e fora do país. Em três partes, eles formaram a Sexta Declaração da Selva Lacandona. No primeiro documento, há um resgate histórico do movimento zapatista, suas origens, sua constituição, suas propostas, com um resumo dos avanços obtidos em sua luta desde a aparição pública de janeiro de 1994 até os dias atuais. A segunda parte recupera a cosmovisão zapatista, com uma análise da conjuntura política, econômica e social do mundo hoje, além de uma leitura crítica da globalização e seus efeitos.
Também há referências à situação do México, com destaque para as conseqüências práticas da implantação do TLC - Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos e o Canadá. Na terceira e última parte da Declaração, o EZLN lança uma nova proposta direcionada a amplos setores da chamada sociedade civil, reconhecendo nas organizações de base, nos movimentos sociais autênticos, nas agrupações de esquerda e nos cidadãos, cada qual a seu modo e a partir de seu lugar de atuação na sociedade, aliados importantes na luta pela construção de alternativas reais ao neoliberalismo. Os zapatistas propõem um " plano para ir a todas as partes do México onde exista gente humilde e simples" para perguntar a estas pessoas "como é a sua vida, sua luta, seu pensamento sobre como está nosso país e como fazemos para que não nos derrotem". Anunciam que uma delegação do EZLN sairá percorrendo todos os roncões mexicanos e convidam a todos que queiram somar-se a esta "Campanha Nacional para a construção de uma outra forma de fazer política, de um programa de luta nacional e de esquerda e por uma noca Constituição".
Na comunidade chiapaneca de San Rafael, no dia 06 de agosto de 2005, um sábado, o sub-comandante Marcos reaparece publicamente depois de cinco anos, e se reúne para discutir uma ampla plataforma política com delegados de organizações não-governamentais, camponesas e sindicais. Aos presentes e através de comunicados, os zapatistas fazem o lançamento de "La Otra Campaña", um conjunto de iniciativas para colocar em prática as propostas contidas na Sexta Declaração. O EZLN pede a adesão daqueles cidadãos e organizações sociais que concordam com os termos propostos no documento, dentro do México. O "sup" Marcos é o primmeiro a subscrever sua adesão e por isso se converte desde então em "delegado Zero". Os demais delegados zapatistas que irão percorrer o país em caravana integram a Comissão Sexta do EZLN. Em nível mundial, é lançada a Sexta internacional (www.zeztainternazional.org) que reúne as adesões, apoios e solidariedade de várias partes do planeta.
Primeiro de janeiro de 2006, comunidade de La Garrucha, município de Ocosingo. A bordo de uma motocicleta Yamaha de 625 cilindradas, batizada de "Sombraluz", ao meio-dia o subcomandante Marcos, agora delegado Zero, parte em caravana para percorrer todo o país, iniciando a "Otra Campanha", paralelamente às campanhas dos partidos convencionais para as eleições de 2 de julho deste ano. Todo vestido de negro, inclusive o capacete, Marcos leva no bagageiro de sua moto o símbolo da Sexta, "el pingüino" (o pingüim). Não reconhecido por seu tradicional gorro "pasamontañas" e sua farda, ocultos debaixo da vestimenta negra de motociclista, o "sup" passa despercebido pela multidão de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas que aguardam a partida da delegação zapatista. Continua ....