Monday, February 09, 2009

É ... que outro mundo é possível? Breve avaliação do FSM!


O FSM em Belém refletiu o que vinha se ampliando em Porto Alegre no decorrer de suas edições. Uma série de painéis, com palestras e gente falando aquilo que se lê em seus artigos semanais e/ou diários. Ou seja, ao invés de lermos o artigo do Emir Sader, por exemplo, eu apreciava a retórica (no sentido Aristotélico, i.e., algo positivo) do sociólogo.

Claro que não podemos esquercer a feira de artesanato, algo que com as devidas ponderações por que depende do artesanato (é que surgem missangas plásticas, o artesanato produzido em série, sabe como é!). Também devemos fazer referência a toda a espécie de suvenirs expostos a venda, como camisetas, chaveiros, lenços, DVD piratas (com bons filmes e documentários diga-se), etc.

Desconfio que as mostras culturais é o que temos de mais revolucionário. Cultura popular, música popular, artesanato e produção popular. Espaços onde o capital tem mais dificuldade de intervir.

O FSM de 2009 também, a exemplo de PoA serviu de palanque para políticos sedutores (aqui a retórica em seu sentido negativo, pois seduzir na política é o mesmo que fazem as agências publicitárias, ou seja, uma violência contra a tua liberdade de escolha. Mas deixemos esse debate para outra oportunidade) e também para politicos mais honestos e democráticos. Ao menos no discurso. Dilma Rousef, por exemplo, ao contrário de Lula, usa de um discurso de racionalidade, extremamente cauteloso é verdade (a mídia estava na torcida por uma palavra mais radical da ministra) mas um discurso que primava pela lógica. Chato sem dúvida. Nada empolgante. Mas honesto, no sentido que te deixa espaço para refletir. Não te seduz. Não te fala o que quer ouvir. Será que é por inabilidade dela em ter esse discurso sedutor a lá Lula ou ela prima realmente pelo discurso democrático?

Mas voltando ao FSM. Ele deveria ser o espaço para definições políticas, articulação entre os movimentos para que pautas e lutas comuns fossem tiradas. Ações conjuntas realizadas. Debates sobre o que fazer e como aglutinar esforços para mais uma vez na história tentarmos tirar o Estado das mãos destes que controlam os sistemas financeiros e as mídias. Ou melhor tirar o sistema financeiro e as mídias desses que as detém atualmente. Enfim, algo mais pragmático, objetivo, vivo.

Em um debate que reuniu Emir Sader, Michael Löwy e Luis Hernández Navarro, uma advertência se repetiu com diferentes matizes: o próprio FSM não está livre dessas ondas. Ou define uma estratégia de luta política que leva em conta o que pode ocorrer nos próximos meses, ou corre o risco de ser soterrado pelos escombros do mundo atual.

Ou seja, o FSM não pode se transformar no mísero direito de balançar as pernas do enforcado, se é que me entendem. O pessoal do direito chama de ius isperniandi. Não pode ser apenas isso.

Tenho a esperança que o FSM não irá confirmar o velho ditado do Barão de Itararé que dizia “De onde menos se espera é dali mesmo que não sai nada”. Acho que algo pode sair do encontro de mais prático e objetivo. Não sei o que, mas chances existem. Os Movimentos Sociais (mais uma vez eles) conseguiram tirar uma agenda. Já a plenária final do FSM é melhor que caia no esquecimento.

Quanto ao Acampamento Intercontinental da Juventude, com razão abandonou o subtítulo de “Cidade das Cidades”. Beirava não ser um acampamento, capit? E ao contrário do que alguns otimistas dizem, não vi uma juventude tão ávida assim por mudanças. Vi sim uma juventude ávida por sexo, drogas e rock n'roll. Coisa que nossos pais e até avós de alguns que lá estavam já faziam nas décadas de 60 e 70. O que aquela geração conseguiu vivemos o resultado.

Uma das experiências hilárias do AIJ, que se realizou na UFRA, era ir nas tendas localizadas naquele campus. Salvo grandes “celebridades” presentes, os painéis de debates e tendas eram frequentados por quem? Claro, por eles e elas, os que já tinham dado adeus a juventude física a alguns anos ou décadas! Acredito que seus espíritos ainda são jovens. Os velhos militantes me dão mais esperança do que os novos.

Lembremos ainda dos 146 milhões de reais despejados em Belém para o FSM. Não haviam ônibus suficientes para o transporte!! Porto Alegre em sua última edição contou com 15 milhões. Me recordo de ter banheiros suficientes e de transporte para PUC (argh!) todos os dias, com ar condicionado! Não vou listar todos os problemas estruturais do FSM. Mas onde foram investidos os 146 milhões mesmo? Seria na estrada nova que fizeram entre a UFRA e a UFPA? Asfalto colocado para gringo ver, já que a comunidade não sabia o que era recapagem a anos! Melhor que nada, dizem! Bueno, viva o povo de Terra Firme, mesmo com toda a violência que lá existe, são heróis que não se deram conta de sua força!

Deixemos também a desprogramação de lado, chega de falar mal do FSM.

Afinal, e para concluir, sempre é um encontro válido. Muito pior seria se o FSM não existisse. Ficou um pouco o cheiro de engodo é verdade, contudo ainda é o nosso engodo e as nossas contradições.

Realmente um lugar em que temos a Eletronorte que constrói barragens e que tem lá também o movimento nacional de luta contra as barragens, um lugar que tem “recarga vivo”, “recarga tim”, máquinas de coca-cola (com o ridículo disfarce de “geladão”) e ao mesmo tempo faixas anticapitalistas irá construir um outro mundo. Não tenhamos dúvida, um outro mundo sempre é possível e é contruído todos os dias. Mas qual outro mundo é possível? Esse slogan é um copo vazio, mas não esqueçamos que um copo vazio está cheio de ar!

Sejamos claros camaradas! Queremos um mundo que não seja capitalista e que seja extremamente democrático. Larguemos de papo-furado!

O grande aspecto positivo desta edição do FSM foi sem dúvida a possibilidade de maior diálogo e conhecimento dos povos indígenas. Talvez nos povos originários encontremos as respostas que precisamos para criar um outro mundo que abandone e faça do capitalismo parte da história!


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